QUERO UM ROMANCE INFANTIL

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Maturidade é aquele nirvana clichê que você precisa atingir segundo sua irmã controladora, sua mãe e a psicóloga. E isso significa segurar a emoção. Você não vai sobreviver ao ambiente de trabalho se não segurar a emoção. Não vai sobreviver ao imposto de renda se não segurar a emoção. Não vai sobreviver a nenhuma dieta se não segurar a emoção.

Mas cortar a emoção dos assuntos do coração é antítese. Essa coisa de relacionamento maduro dá nos nervos. Ser obrigada a ficar com aquele cara de óculos, que controla as suas contas e não deixa nem você falar com o garçom só porque vai dar um bom marido é foda. E não venha me dizer que a culpa é da Disney. A culpa é do nosso sangue que não pulsa em veia de barata.

Nossas artérias já tão sufocadas pelas estrelinhas da avaliação Black Mirror da vida. A carótida tá quase entrando em colapso porque não sobra mais espaço no corpo, nem na vida, pra você ser você mesmo. O cara finge tanto ser outra pessoa com a esposa perfeita e adequada, que vai procurar, em pleno século – da liberdade – XXI, conforto no esconderijo descontraído das amantes.

Tá tudo esquisito. Tudo errado. Não tô incentivando ninguém a pular de galho em galho na emoção, não. Mas se você tá solteiro, aproveita. Faz o retorno e volta pro começo. Quando era criança, sorria desarmado e chorava rasgando os segredos da alma. Não é a cara que precisa estar lavada. É ela: a alma.

Quero um começo de romance em que eu não tenha vergonha de jogar stop de papel com o parceiro, propor um ‘eu nunca’ e um ‘verdade ou consequência’. Rir de piada sem graça, contar pras amigas e encher o estômago de borboleta. Sem que ele – nem ninguém – me lembre da chatice do mundo maduro.

Se for recíproco, é fechamento. A criança cresce forte e nutrida para amadurecer junto. Vira adulto calmo e controlado. Mas dar o primeiro mergulho na água gelada sem o cheirinho típico da maresia é o mesmo que boiar na piscina. Dá onda nenhuma. MC G15 já diria.

Esse é uma ode à emoção dos começos. Na vida ou no amor. Porque amor duradouro que se preze é pautado em bons começos, vive as fases por inteiro, sem ser velho desde o berço. É, então, cheio de maturidade que a gente enche o peito e grita: quero um romance infantil. Ainda tem pra hoje, garçom? Desce pra dois. Por favor.