13 RAZÕES PARA NÃO CRITICAR 13 REASONS WHY

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*Pode conter spoilers.

Assisti à série hypada produzida pela Selena Gomez, que, por coincidência, nasceu no mesmo dia que eu. E, por coincidência, ou coisa dos astros mesmo, amei que nem ela. Me deleitei com cada personagem. Entendi a psiqué e a profundidade de todos. Comentei com pais e amigos. Compartilhamos comentários.

Começaram a me mandar críticas e mais críticas de diversos sites. “Não sei quantos mil motivos para não assistir a série pra cá”. “Foram muito irresponsáveis pra lá”.

De fato, a série romantiza o suicídio. A protagonista é linda e deixa um rapaz muito fofo atordoadíssimo com a morte dela. Só isso seria o bastante para Romeu e Julieta revirarem a cova.

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Como não fosse o bastante, a história tem ares de vingança, sim. Hannah faz questão de imputar o máximo de culpa a cada um dos seus algozes, violentando-os psicologicamente. Exatamente como cada um deles a fez sentir em vida. Tudo à custa de sua própria morte. Pesado.

Ah. Por não conhecer ou  por não dar bola mesmo para a máxima: “não importa o que fizeram de mim. Importa o que eu fiz com aquilo que fizeram de mim” –  para o desgosto de Sartre – a adolescente de 17 anos vai fundo no papel de vítima e comete o ato trágico de acabar com a própria vida. Tudo isso sem encarar seus próprios monstros, frustrações ou assumir a parcela de culpa que lhe cabia na sucessão de fatos amargos que desencadearam o traumático ensino médio.

Tudo Verdade.

Ainda assim, há pelo menos 13 motivos pelos quais eu acho que 13 Reasons Why merece todos os créditos:

1 – OBRAS ARTÍSTICAS E DRAMÁTICAS SÃO DE LIVRE EXPRESSÃO DO AUTOR

Que o suicídio não é uma coisa legal é o óbvio ululante, né, gente. Mas por favor, não fique achando que você é o único espertalhão-com-senso-crítico. Tampouco deseje a volta da censura para as obras dramáticas. Não há nada mais retrógrado. Além do que: é arrogante achar que todos os telespectadores, leitores e afins são massa de manobra. Só você não. Digo mais: há adolescentes, hoje, mais espertos e argumentativos que nós.

2 – A OBRA É REALISTA E TEM UMA ENORME FORÇA DE DEBATE

A verossimilhança dos comportamentos é garantida pelo fato dos roteiros e gravações terem sido acompanhados por profissionais da saúde, como psicólogos. A personalidade polêmica dos personagens nos leva à reflexão e ao debate, o que, incontestavelmente, contribui para a formação mais completa, consciente e humana de qualquer cidadão. Não subestima a sua inteligência nem oculta de você qualquer faceta da realidade.

3 – VOCÊ PODE SE IDENTIFICAR MESMO NÃO SENDO ADOLESCENTE

Ainda que você se julgue muito maduro, há inúmeros motivos para ter uma baita catarse com a série. Afinal, a adolescência só é a parte da vida em que os acontecimentos e sensações ficam superlativos. E, se todo mundo tem uma criança interior, com certeza o adolescente está latente aí também. Além disso, Bullying, Assédio e Misoginia – temas da série – acontecem em qualquer ambiente coletivo. Só não enxerga quem não tem coragem.

4 – A SÉRIE NÃO FALA DE IMPUTAÇÃO DE CULPA, FALA DE RESPONSABILIDADE

Se trocarmos a palavra culpa por responsabilidade, a coisa ganha timbres mais razoáveis. Explico. Culpa é uma palavra com carga religiosa. Lembra castigo. E falar disso hoje em dia soa demodé. Mas a verdade é que culpa está relacionada à ideia de responsabilidade, que é mais aceita na sociedade, até juridicamente. Nesse viés, a série procura dar enfoque à responsabilidade que nós, seres sociais que somos, temos, ou deveríamos ter, em relação aos outros.

5 – HANNAH BAKER NÃO É A ÚNICA VÍTIMA

Ela protagoniza o papel de vítima, mas a série deixa claro que algozes também vivem seus próprios infernos e tentam lidar com suas próprias fraquezas. Ainda que de um jeito covarde. Talvez porque não saibam fazê-lo de outra forma. Recusam o posto de vítima. Por isso agridem. Insensivelmente. Sem dó, nem piedade. Dá pra se identificar com vários personagens. A série procurou destrinchar os personagens na medida do possível e dar uma visão global do entorno. Bem interessante.

6 – CADA UM SABE A DOR (E, ÀS VEZES, A DELÍCIA) DE SER O QUE É

Muitos artigos que li questionaram a futilidade das razões de Hannah. Sim, é um contexto adolescente. Mas que trata de abandono. Traição. Incompreensão. Assédio. Bullying. Em relação à profundidade dos sentimentos da personagem, cabe mesmo a nós dimensionar a dor alheia? O que é doído para B pode não ser para C. Precisamos nos lembrar que o agressor raramente lembra da agressão. O pé pisado é que fica latejando. E você nunca sabe se ele já tava inflamado. Chamá-la de problemática, sim, é fútil. Agredir é fútil. Afinal, problemas: quem não os tem?

7 – O CONCEITO DE AMOR AO PRÓXIMO É ANTIGO, MAS PARECE QUE AINDA NÃO FOI TESTADO

A série atenta para o caos do egoísmo e da individualidade extrema que estamos sendo levados a viver. Os algozes de Hannah agiam como todos nós temos aprendido a agir: “quando você se torna mais popular que um amigo, deixe ele pra trás. Quando a sua paixão por alguém ameaça te expor, joque a culpa nela” (The Ringer). Tenho ouvido muito por aí também coisas do tipo: “se a presença de alguém não te faz bem por qualquer motivo use a desculpa de que a “energia” dela não combina com a sua. Não tenha receio de pensar só em você e isole-a, sem dó”. Pensamentos ególatras, sem qualquer senso de compaixão. Estamos subvertendo a cada dia qualquer senso de amor ao próximo. A série, por sua vez, só me encheu de vontade de amar ainda mais.

8 – A NARRATIVA DAS FITAS DE HANNAH BAKER É TOCANTE

A personagem principal tem claramente vocação jornalística ou literária na série. Isso é comentado em um dos episódios como opção de carreira para ela. Sob essa justificativa, cada palavra de suas fitas é um verdadeiro deleite. Construções bem feitas. Raciocínios brilhantes. Quase um poema. Sensível e peculiar. Frases que dão vontade de anotar no caderninho e escrever na parede. Uma aula para quem ama redação.

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9 – A NÃO LINEARIDADE DO ROTEIRO É INSPIRADORA E CRIATIVA

A escolha por contar a história no melhor estilo flash back dá uma dinâmica interessante aos episódios. As lembranças de Hannah vão aos poucos se misturando às lembranças do amigo Clay, em pontos de vistas distintos, mas igualmente profundos e cheios de emoção. Tudo feito com muito esmero.

10 – A SÉRIE TE DÁ MUITA ESPERANÇA

A índole e o coração do personagem Clay vão fazer você recobrar a esperança na humanidade. Ainda que você o ache fechado, omisso e meio frouxo. Além do mais, trilha sonora vai fazer com que você tenha vontade viver! E voltar a viver romances adolescentes cheios de delicadeza e emoção ❤

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11 – SE VOCÊ JÁ SOFREU COMO HANNAH, SE SENTIRÁ COMPREENDIDO

Se você já sofreu bullying, assédio ou coisa pior, você não vai mais se sentir só. Bilhões de pessoas têm a mesma matriz, a mesma sensibilidade e o coração da Hannah. Amaram a série e te entendem. Uma delas sou eu. A outra é a Selena Gomez.

12 – SE VOCÊ JÁ AGREDIU ALGUÉM POR MOTIVOS FÚTEIS, TALVEZ SUA MENTE SE ILUMINE E VOCÊ TAMBÉM NÃO SE SINTA SÓ PARA ADMITIR ISSO

Se você já praticou bullying, assédio ou estupro talvez você entenda que descontar as suas frustrações nos outros pode ter consequências catastróficas (desculpem colocar todos os atos na mesma linha. Mas é preciso deixar claro que todas essas são formas covardes de agressão). Se você só consegue se divertir ou ter prazer assim, é provável que, tanto quanto Hannah Baker, você precise de ajuda. Uma dica simples para o bullying é: você, constantemente, faz piadas com alguém em que esse alguém não se diverte? Alguma coisa tá errada 😉 Piada legal mesmo é piada que faz todo mundo rir. 

13 – SE VOCÊ ESTIVER NUMA POSIÇÃO DE AUTORIDADE E PUDER FAZER ALGO PARA MELHORAR AS RELAÇÕES ENTRE AS PESSOAS, TALVEZ VOCÊ SE SINTA INCLINADO A FAZÊ-LO.

Se você é pai, mãe ou diretor de escola, essa série vai te fazer prestar mais atenção na psiqué de quem está sob a sua responsabilidade ou direção. Se você tiver sangue e humanidade correndo nas veias, vai te impulsionar a transformá-los em seres humanos mais fortes, mais respeitosos, mais seguros de si, mais saudáveis, menos covardes. Mais felizes.

Não deixe de assistir aos comentários finais depois do último capítulo. E, sobretudo, divirta-se com a série! A arte mais salva do que mata!

Informação útil para quem ainda não estiver convencido: os produtores da série fizeram uma parceria com o CVV (Centro de Valorização da Vida). O serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção ao suicídio recebeu o dobro de ligações desde que a primeira temporada da série 13 Reasons Why foi lançada na Netflix. Além da parceria com a organização, a série também impulsionou uma campanha contra o bullying e o assédio nas redes sociais com a hashtag #NãoSejaUMPorque.

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O CVV atende 24 horas por dia pelo telefone 141, por e-mail, Skype e chat no site do serviço.  

QUERO UM ROMANCE INFANTIL

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Maturidade é aquele nirvana clichê que você precisa atingir segundo sua irmã controladora, sua mãe e a psicóloga. E isso significa segurar a emoção. Você não vai sobreviver ao ambiente de trabalho se não segurar a emoção. Não vai sobreviver ao imposto de renda se não segurar a emoção. Não vai sobreviver a nenhuma dieta se não segurar a emoção.

Mas cortar a emoção dos assuntos do coração é antítese. Essa coisa de relacionamento maduro dá nos nervos. Ser obrigada a ficar com aquele cara de óculos, que controla as suas contas e não deixa nem você falar com o garçom só porque vai dar um bom marido é foda. E não venha me dizer que a culpa é da Disney. A culpa é do nosso sangue que não pulsa em veia de barata.

Nossas artérias já tão sufocadas pelas estrelinhas da avaliação Black Mirror da vida. A carótida tá quase entrando em colapso porque não sobra mais espaço no corpo, nem na vida, pra você ser você mesmo. O cara finge tanto ser outra pessoa com a esposa perfeita e adequada, que vai procurar, em pleno século – da liberdade – XXI, conforto no esconderijo descontraído das amantes.

Tá tudo esquisito. Tudo errado. Não tô incentivando ninguém a pular de galho em galho na emoção, não. Mas se você tá solteiro, aproveita. Faz o retorno e volta pro começo. Quando era criança, sorria desarmado e chorava rasgando os segredos da alma. Não é a cara que precisa estar lavada. É ela: a alma.

Quero um começo de romance em que eu não tenha vergonha de jogar stop de papel com o parceiro, propor um ‘eu nunca’ e um ‘verdade ou consequência’. Rir de piada sem graça, contar pras amigas e encher o estômago de borboleta. Sem que ele – nem ninguém – me lembre da chatice do mundo maduro.

Se for recíproco, é fechamento. A criança cresce forte e nutrida para amadurecer junto. Vira adulto calmo e controlado. Mas dar o primeiro mergulho na água gelada sem o cheirinho típico da maresia é o mesmo que boiar na piscina. Dá onda nenhuma. MC G15 já diria.

Esse é uma ode à emoção dos começos. Na vida ou no amor. Porque amor duradouro que se preze é pautado em bons começos, vive as fases por inteiro, sem ser velho desde o berço. É, então, cheio de maturidade que a gente enche o peito e grita: quero um romance infantil. Ainda tem pra hoje, garçom? Desce pra dois. Por favor. 

A QUEM SE IDENTIFICAR POSSA

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Eu penso demais. Há quem viva mais. E pense de menos.

Há quem goste do caos. Há quem o ache insano. E deteste gritos.

Há quem seja curioso. Há quem não. E se afaste de fofocas.

Há quem queira saber a verdade. Há quem não.

Há quem goste de intensidade. E há os que preferem a paz.

Há quem não aceite opinião. Há os que aceitam. E se reavaliam. E reconsideram.

Há quem se ache o dono da verdade. Absoluta. Há quem não. Opinião é opinião.

Há quem faça sentenças gerais e absolutas. Há quem entenda as exceções.

Há quem seja confuso. Há quem seja claro.

Há quem faça terapia. Há quem tenha vergonha de dizer que faz.

Há quem seja tolerante. Há quem não.

Há quem faça piada de si mesmo. Há quem não.

Há quem se leve muito a sério. Há quem não.

Há quem ache tudo muito grave. Há quem não.

Há quem seja egocêntrico. Há quem não.

Há quem se exponha. E até goste de se revelar. Há quem paralise só de pensar.

Há quem goste (muito) de gente-boba. Há quem ache gente-boba boba.

Há os que acham que todo mundo devia ser igual. Há quem não. Socorro. Não.

Há quem se ache melhor que os outros. Há quem, sinceramente, não.

Há quem prefira não destoar. Há quem odeie não causar.

Há quem pare na primeira escolha. E se satisfaça. Há quem goste de novidade. E de opção. Ou variedade.

Há quem goste do padrão. Há quem não! Pelo amor de Deus, não. Tudo menos padrão.

Há quem ache o meio-termo chato. E goste de extremos. Há a turma do bom senso.

Há quem ache que equilíbrio é tudo. Eu estou pensando sobre o assunto.

Não sou moderninha ou subversiva. Nem conservadora demais. Mas sou da turma do caos.

Por enquanto.

É PROIBIDO MAGOAR.

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Deus devia ter acrescentado um 11o mandamento, que devia ser o 3o, em ordem de importância. Depois do amor ao próximo, ainda que esse pudesse englobá-lo. Seria: “não magoarás.” Pra ser bem explícito. Porque o ser humano, meu Deus, não entende. É mesmo tonto. É cabeça dura. Nada evoluído.

A maioria de nós já esteve lá. Várias vezes. No lugar da vítima. E no lugar do algoz. No meu caso, os dois lados sempre foram doloridos. Me dá dor no coração ver alguém sofrendo, porque, ô – I’ve been there. E esse there dói muito, mas muito mais.

Na seara do relacionamento a dois – que é o meu foco – devia ser proibido. Proibido não gostar de quem gosta da gente. Devia ser pecado brabo. Crime. Hediondo. Taí, eu apoiava essa pena. Pro magoador e, em caso de traição ou romance-imediato-que-não-deixa-passar-o-tempo-do-luto-com-outra(o), pra ela(e) também – por ser cúmplice, partícipe.

Devia ser proibido ser feliz à custa do sofrimento alheio. Eu, infelizmente, já quase fiz o papel de algoz do quesito deste parágrafo. Não, não teve traição, nada sórdido. Mas foi de um jeito que a gente sabe que não tá sendo legal com o outro, sabe? E, confesso, não fui mesmo feliz enquanto buscava a felicidade dessa maneira. Fico, inclusive, aliviada com o fim da situação. Acho que nunca ia me livrar da culpa.

O curioso é: não é que tem gente nascida livre da tal da culpa? Talvez seja bom pra essa gente. Mas não deixo de achá-la cruel. Um fato inusitado pra mim é que, num ímpeto, cheguei a parar de seguir a Gabriela Pugliesi (apesar de gostar muito do jeito dela e até admirá-la) no Instagram quando – segundo boatos – ela traiu o marido e – fato – o trocou pelo barbudo. Me recusava, gente! Olhava as fotos do novo casal e só pensava no pobre do “Thi”. Não é da minha conta, eu sei. Sequer sei direito o que aconteceu (queria que a Gabriela me explicasse!). Não deveria me importar. É muito provável que o “Thi” nem queira, nem precise da minha piedade. Mas é assim que tenho conseguido reagir a isso que chamo de “injustiça”. Tomei as dores mesmo e assumo. Me envolvi.

Estava assistindo a uma dessas novelas das 8, há um tempo atrás, na casa do meu primeiro ex-namorado e participei de uma conversa da qual nunca me esqueci, em meio a querida família dele. Na cena da novela, a mocinha largava tudo pra ficar com um certo “carinha”. A irmã mais velha desse meu namorado revoltou-se logo, e disse: “po, querida, esse não. Esse é da outra, parte pro próximo! Tanto homem por aí!”. Eu fiquei pensando naquilo e logo trouxe o debate à baila: “poxa, mas se era um grande amor, ela não deveria lutar por ele?”. E foi aí que a mãe deles, que é psicóloga, sabiamente, disse: “Pode ser. Mas acho muito difícil alguém conseguir a felicidade sabendo que causou tanto sofrimento a alguém.” Isso nunca saiu da minha cabeça. E acho que ela estava certa. No fundo, ainda espero que ela esteja. Seria uma forma de o mundo formar sua própria justiça. Dar sua própria volta.

E tudo isso acontece porque sabemos que, nós humanos, não passamos mesmo de raça de víboras. Masoquistas. Que gostamos de sofrer e desafiar quem não gosta da gente a gostar. Depois sofremos e fazemos alguém sofrer. Pra compensar. Não atacamos a vítima certa. A pena sai difusa, atingindo qualquer próximo que vier. E, de certa forma, nos sentimos redimidos quando magoamos alguém depois de termos sido magoados. A gente se sente o tal. O fênix ressurgindo das cinzas. É um mix de prazer e compaixão – ou pena mesmo. Nossa, como somos loucos. Quisera Deus ter-nos feito menos complexos.

Há quem pense, e eu entendo, de certa forma: “don’t hate the player, hate the game”. Mas esse jogo é perigoso, meu caro. Nem toda aventura termina bem. A maioria não termina. Ou melhor, nem começa. São tantas as variáveis pro amor. Minha próxima crônica vai ser: “de que é feito um crush?”. Dá certo quando a gente decide que vai dar. Os dois decidem fazer do outro vencedor. Vencer juntos. Sem vítimas. Sem perdedores. E pronto – e ponto. Ao mesmo tempo. E de comum acordo. E aceitam corajosamente a felicidade. Enquanto a intrepidez não vem, a gente vive a música do Chico – e o poema do Drummond: “Carlos amava Dora, que amava Lia, que amava Léa, que amava Paulo, que amava Juca que amava Dora, que amava…” – “João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim, que amava Lili, que não amava ninguém.”

É, essa história é velha, meu amigo.

Haverá quem diga: “para tudo. Vejo fumaça da infantil apologia de um mundo incólume, protegido de frustrações e crescimento, onde as pessoas não teriam mais o direito de se entristecer, ou entristecer os outros. Você quer extirpar o sofrimento do mundo, é isso? E ainda culpar os 10 mandamentos? Onde ficariam, além disso, as mais belas músicas, os poemas inspirados e toda a produção que a tristeza gera?”

É, também pensei nisso. A tristeza ajuda o mundo a se aperfeiçoar. Deus é mesmo sábio. Não é justo culpá-lo por não ter mandado Moisés acrescer mais um mandamento às tábuas, no início da civilização. Mas – poxa – mesmo no campo do amor-paixão, a morte, as doenças e a distância continuariam existindo. Casos fortuitos, que ainda permitiriam à gente um bom filme, um bom livro, uma boa música. Gerariam a melancolia e a profundidade necessária de sentimentos. Mas não mágoa. Magoar não. Esse verbo não.

OSCAR 2015: GAROTA EXEMPLAR

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1 Indicação: melhor atriz (Rosamund Pike)

Mordomos, perdi um pouco o timing de falar desse filme porque ele já saiu de cartaz, mas está no NET NOW e quem ainda não viu, TEM QUE VER!

É Baseado no livro “Garota Exemplar”, escrito por Gillian Flynn, que também assina o roteiro do filme. Dizem que ela escreve surpreendentemente bem, o que garante alguns bons diálogos ao filme, principalmente os do final. O Filme é do famoso diretor David Fincher e Reese Whiterspoon foi uma das produtoras.

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Eu estava em uma época meio aficionada por personagens (mulheres) fortes, desde que uma amiga minha me mandou assistir a série House Of Cards, para eu ver como a esposa do personagem principal era forte e mantinha o homem dela “comendo em suas mãos” (é feio dizer isso?) apesar de tudo. Haha. Conselhos que as amigas dão nessas noites de conversas de fossa e filosofia sobre homens. Abafa.

Foi essa mesma amiga que me disse pra ver “Garota Exemplar”. O título me pareceu bobo à primeira vista, mas ela me garantiu que não era. E, à segunda análise, já consegui perceber algo bem mais atrativo nele.

Quem não quer ser uma “garota exemplar”? Sem clichês, gente, óbvio. Até porque hoje em dia os anti-heróis é que estão com tudo. Mas toda garota já quis ser, em algum momento da vida, uma mulher dessas infalíveis, que consegue tudo o que quer. “Exemplar”.

O problema é que geralmente essas mulheres são um tanto manipuladoras e calculistas, o que faz com que a maioria de nós não consiga ser que nem elas (graças a Deus, eu acho, né?). Mas que gostamos de aprender algumas coisinhas, ah, gostamos! Quer dizer, pelo menos eu gosto. Quem nunca? Atire a primeira pedra!

E é assim que é a personagem Amy Dunne (Rosamund Pike), que segundo aqueles que leram o livro, obviamente, tem sua psique muito melhor retratada na versão literária.

A sinopse é a seguinte: ela desaparece no dia do seu aniversário de casamento, deixando o marido Nick (Ben Affleck) em apuros. Ele começa a agir descontroladamente, abusando das mentiras, e se torna o suspeito número um da polícia. Com o apoio da sua irmã gêmea, Margo (Carrie Coon), Nick tenta provar a sua inocência e, ao mesmo tempo, procura descobrir o que aconteceu com Amy.

O pano de fundo e razão do título do filme é o livro didático que os pais de Amy, psicólogos, escreveram para distribuição nas escolas dos Estados Unidos, “inspirado” nela: “Amazing Amy”. O Livro, usado em todas as escolas, como forma de educar e ensinar condutas sociais adequadas, fez com que os pais da filha única Amy enriquecessem e ela se tornasse relativamente conhecida. Porém, com o estigma de sempre ter de ser comparada à personagem do Livro.

Achei o filme instigante, aflitivo e surpreendente até o final! É um ótimo SUSPENSE!

A partir daqui, talvez o que vá escrever seja um pouco ######‪#‎SPOILER######### então cuidado! Essa parte é boa pra quem já assistiu ao filme ou leu o livro discutir comigo! Heheh! (Adoro!) – [Comentem, por favor!! Estou sentindo muita falta de comentários nesses posts dos filmes! – desabafo]

É mais uma história de psicopatia daquelas que a gente ama!! Mas a minha amiga Rebeca, que leu o livro, diz que o livro é – como quase sempre – mil vezes melhor! Que você nem chega a ter tanta raiva da personagem principal porque a psicologia dela é trabalhada de uma forma muito mais detalhada, assim como a dos outros personagens. Isso, além do fato de a raiva de Amy ser construída dentro de uma linha evolutiva verossímil, o que nos faz compreendê-la melhor. Parece que, no Livro, um capítulo é o diário de Amy e o outro a versão contada pelo marido Nick, e você vai tirando suas conclusões até que as histórias se cruzam.

Além disso, o Livro explica melhor o fantasma do Livro didático criado pelos pais, já que a Amy do livro era de fato perfeita, com uma conduta sempre irretocável, irrepreensível,  a qual os alunos deveriam seguir, o que, obviamente criava uma exigência e patamar cruéis a serem alçados pela menina.

Li uma crítica interessante pela internet, que dizia que tudo o que Amy faz no filme, ela o faz para se encontrar, para encontrar a real Amy e criar uma vida emocionante de verdade pra ela. É sútil, mas é possível inferir no filme a alegria da personagem ao se tornar a protagonista real de um escândalo verdadeiro criado por ela. Achei legal porque faz sentido. É uma boa análise psicológica da personagem.

Muita gente fica possessa com o final e passa a odiar o filme por causa dele, mas eu amei o filme justamente por causa do final! O filme é uma ficção, mas o ser humano é exatamente assim na vida real, gente: louco e sem coerência alguma.

Como diria Woody Allen, os relacionamentos são insanos, mas continuamos dentro deles, porque precisamos deles.

Amamos o improvável. É assim que somos.

E sobre isso eu só tenho uma coisa a dizer a vocês: “That’s marriage” (!) (Rs.) – Quem viu o filme entenderá.

Bom, tudo isso pra dizer a vocês que recomendo a história! Seja pelo livro ou pelo filme!

Não deixem passar essa!

OSCAR 2015: O JOGO DA IMITAÇÃO

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São 8 indicações ao Oscar! Vamos lá: 1 – melhor filme, 2 – melhor ator (Benedict Cumbertatch), 3 – melhor diretor (Morten Tyldum), 4 – melhor atriz coadjuvante (Keira Knightley), 5 – melhor roteiro adaptado (Graham Moore – estreante! ), 6 – melhor edição (William Goldenberg), 7 – melhor trilha sonora (Alexandre Desplat  – o mesmo que fez a trilha de “O grande Hotel Budapeste”) e 8 – melhor design de produção.

Filmes baseados em fatos reais já saem com uma vantagem na largada, né? E a gente ama! Acho que acabamos nos envolvendo mais sabendo que aquilo aconteceu de fato. A ficção só imita a vida real. Mas não tem jeito, os fatos verídicos são a obra prima mesmo e é impressionante a quantidade de histórias ricas, profundas e emocionantes que existem por aí e jamais foram contadas.

É bem o caso de O JOGO DA IMITAÇÃO. Uma história-que-mudou-a-HISTÓRIA e ficou escondida por mais de 50 anos como um segredo de Estado.

O filme é do famoso diretor norueguês Moten Tyldum, que estreia seu primeiro filme na língua inglesa, para retratar o que se passou (mais uma vez) durante a Segunda Guerra Mundial (eu tenho zero preconceito, gente! Muitas pessoas já estão enfadadas desse tema, mas aconteceu tanta coisa, em tantos países, nesses 6 anos de guerra, que os detalhes são capazes de criar dezenas de filmes com focos muito diferentes uns dos outros!). Dessa vez o cenário é a Inglaterra e a guerra em si é um fator secundário. A intenção central foi contar, em forma de drama, a biografia do matemático Alan Turing.

Nessa época, o governo britânico montou uma equipe que tinha por objetivo quebrar o Enigma – o famoso código que os alemães usavam para enviar mensagens aos submarinos de guerra e comandar seus ataques. Um dos integrantes da equipe foi justamente Alan Turing (Benedict Cumberbatch), um matemático de apenas 27 anos estritamente lógico e focado no trabalho, com pouca habilidade social e consequentes problemas de relacionamento com praticamente todos à sua volta. Não demora muito para que o brilhante Turing, apesar de sua intransigência, conquiste o lugar de liderança da equipe, com o aval do próprio 1o Ministro Churchil. O grande projeto de Turing era construir uma máquina que permitisse analisar todas as possibilidades de codificação do Enigma em apenas algumas horas, de forma que os ingleses pudessem conhecer as ordens enviadas pelos alemães antes que elas fossem executadas. Entretanto, para que o projeto dê certo, Turing terá que aprender a trabalhar em equipe e tem Joan Clarke (Keira Knightley) como sua grande aliada e incentivadora.

Graham Moore, que assina o roteiro, sonhava em escrever sobre a vida de Turing desde os seus 14 anos.

O ator escolhido para o papel do lendário personagem foi Benedict Cumberbatch. E não é à toa que foi indicado à categoria de melhor ator. Ele simplesmente arrasa. Praticamente carrega o filme nas costas, sem desmerecer os outros. Mas é inegável que ele se destaca completamente. Cumberbatch é parente distante de Turing na vida real e confessou que em uma das cenas finais do filme não conseguia parar de chorar, chegando a ter um colapso, por, em suas palavras, “ser um ator ou uma pessoa que cresceu incrivelmente apaixonada pelo personagem e pensando o que ele tinha sofrido e como isso tinha lhe afetado.”

INFELIZMENTE NÃO POSSO DAR SPOILER DESSE FILME, mas ao longo do filme os problemas da vida pessoal de Turing vão se revelando, o que torna o filme muito mais interessante! (filmes com contornos psicológicos sempre ganham pontos comigo!)

Posso só dar uma pista?

Tem a ver com o nome que ele dá para sua máquina decifradora do Enigma!

As curiosidades mais legais que pesquisei sobre o filme são:

1 – Alex Lawther, que interpreta o jovem Turing, e Benedict Cumberbatch tiveram que usar cada um, próteses desgastadas no filme, que eram cópias exatas dos dentes falsos de Alan Turing por 60 anos.

2 – O site oficial do filme theimitationgamemovie.com permite que os visitantes desbloqueiem conteúdo exclusivo ao resolver palavras cruzadas concebidas por Turing em sua vida. (haha adoro esses desafios, mas ainda não tentei! Devem ser um bom passatempo, muito melhor que jogar candy crush!)

Segue o Trailer pra vocês 😉